terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Palavra por Palavra



 Palavra por palavra já engoli todos os afetos e desafetos que senti de dentro para fora, e que recebi de fora para dentro. Chorei imensas mágoas e dores que eu mesma criei dias e noite a fio, tentando tecer sobre versos boas esperanças de me desfazer das angustias e expressar algo bom. Palavra por palavra me deleitei, me despi, expus minhas viceras ainda vivas que agonizavam. Por oras, me envenenei ao sabor da minha própria ira e morri torridamente. Palavra por palavra renasci, em cada letra que compunha quando sem menos esperar, ao ver aquele olhar exasperado que quase comia palavra por palavra tudo o que escrevi...

 Palavra por palavra eis aqui, vida e morte de todos os dias, as que sinto e não escrevo, as que escrevo e não sinto, aquelas que ficam presas "na ponta da lingua" e que não se sabia por que não saiam. Descobri enfim que não podiam, ou delas sairia ternura ou ira desmerecida, a quem não coubesse sequer uma palavra fria. E palavra por palavra, uma a uma, comiam-se versos, prosas, contos e poesia, transformando-se em jornais, certidoes de nascimento, cartas de amor, livros e mais livros, e em óbito se desfazia... 

 Eu, palavra por palavra vivo, e morreria! 


Tamires Correia