quarta-feira, 21 de maio de 2014

Ser você

Não sei ao certo quem você é, mas queria que eu fosse um pouco de você ai dentro onde ninguém sabe o que acontece. Queria ter sido um pouco do teu café da manhã, mas queria ser também um pouco do teu lençol. Queria ser teu perfume por um dia ou mesmo aquela frase que você escreveu no caderno. Quando você fosse deitar, talvez um pouco da tua insonia e quando você acordasse, um pensamento ligeiro. Se eu fosse um pouco da tua pele para te guardar do frio ou até aquele pedacinho onde você deixa o sol bater. Queria tanto saber quem você é e ser um pouco de você que em mim, eu acabo sendo tanto você que já não sei mais diferenciar quem sou, se sou eu mesmo ou se sou você quase inteira. Queria às vezes não saber mais nada e deixar que você seja quem quiser ser, mas ainda impregnada dentro de mim, nas minhas entranhas, na minha epiderme, no lugar onde já deveria ter saido e por mal criação e por desobediência, teima e insiste em ficar... Teima em fazer de mim o que quer e eu, que não sei quem tu és, sei que eu sou muito você!

Tamires Correia

sábado, 10 de maio de 2014

Partidas



Ir embora de verdade é quando a gente leva junto a cabeça e o coração e tudo quanto mais a ele pertença. Requer uma força inexistente e uma espera de que o tempo resolva todo e qualquer problema e que chega a ser sobre-humano o esforço que a mente faz, não para esquecer, mas para não lembrar. É algo parecido com saber que todos os seus órgãos vitais estão a um passo de se romperem e nunca mais voltar a funcionar. Ir embora exige uma coragem que não se tem verdadeiramente, mas que sabemos que é preciso para que não haja mais mágoa, não haja mais dor, não haja mais motivos para o que um dia foi bonito seja transformado em um simples passado, mas para que permaneça intacto mesmo que muitas coisas ruins já tenham acontecido, e não é fácil, é bem difícil. Tão difícil que dói por dentro e por fora, cada momento é como se eu tivesse sendo esmagada, triturada, como se eu tivesse sendo torturada pouco a pouco... Mas que é preciso deixar que isso aconteça até que a cura seja completa. Ficar perdida, vagando por quanto tempo for necessário até que eu possa me encontrar, ir embora é se perder e se encontrar depois, passando por cada momento bom e ruim que virá a seguir, cada frio, cada música, cada sorriso quando a vontade é chorar e resistir. Ir embora é matar algo que ainda vive dentro de nós, é morrer e lutar para renascer, mas renascer forte e não mais fraca. Ir embora é lutar contra os próprios pensamentos, contra a sua força de querer permanecer, contra a sua história... Ir embora é também voltar, depois que estiver pronto e se não tiver, não voltar. É assim... Ir embora quando a vontade é ficar, mesmo que não haja mais forças nem para levantar a cabeça e ainda assim, ir. Ir embora é ir embora e só, ainda que o sangue escorra junto com as lagrimas, ainda que o suor caia nos olhos, ainda que a vontade seja ficar. Ir embora requer o mesmo amor que você tinha para ficar.

Tamires Correia