quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Palavras

Palavra por palavra já engoli todos os afetos e desafetos que senti de dentro para fora, e que recebi de fora para dentro. Chorei imensas mágoas e dores que eu mesma criei dias e noite a fio, tentando tecer sobre versos boas esperanças de me desfazer das angústias e expressar algo que pensava ser bom. Palavra por palavra me deleitei, me despi, expus minhas vísceras ainda vivas que agonizavam. Por horas, me envenenei ao sabor da minha própria ira e morri torridamente. Palavra por palavra renasci, em cada letra que compunha, quando sem menos esperar, ao ver aquele olhar exasperado que quase comia palavra por palavra tudo o que escrevera...

Palavra por palavra eis aqui, vida e morte de todos os dias, as que sinto e não escrevo, as que escrevo e não sinto. Aquelas que ficam presas "na ponta da língua" e que não se sabia por que não saiam, descobri enfim que não podiam, ou delas sairia ternura ou ira desmerecida, a quem não coubesse sequer uma palavra fria. E palavra por palavra, uma a uma, comiam-se versos, prosas, contos e poesia, transformando-se em jornais, certidoes de nascimento, cartas de amor, livros e livros, e em obito se desfazia...

Eu, palavra por palavra vivo, e morreria!

Tamires Correia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada por comentar no blog sentimento liquido, volte sempre!