segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Depois do ataque às embarcações da alma, pequenas chamas espalhadas encendeiam tudo de saudade. As tardes de sábado vazias de alguém que sozinho era maior que todo desvão. Os recomeços diários de quem queria estar ao lado-alado por todo sagrado amor. Galhofas, cansaço, ombro, divã, mãos dadas, horas e dezenas de horas e de dias de psicologia e borboletas cultivadas no estômago que têm sido brutalmente assassinadas; umas no massacre de quem ingere substâncias devastadoras encapsulada a todo descaso, outras assassinadas a sangue frio, por alguém sem compaixão. Estilhaços de vidros, meia desfiada, batom borrado, coisas quebradas espalhadas pelo chão, me faz pensar "puta merda, a solidão e o cigarro não são capazes de tudo isso", tamanha atrocidade que foi cometida. Era ainda pior. O convés repleto até o teto de sacos resistetes com nós que só marinheiros sabem dar, estavam todos amotoados, alguns se sacudiam enquanto ouviam minha voz - eram os sonhos aprisionados - pensei. E eram mesmo, e todo o meu passado. Todos os tamanhos e formas, todas a cores e cheiros, coisas que nem me lembrava mais. Os alambrados que separavam os sacos por categoria estavam jogados entre eles como num furacão. Procurava entre o lixo altamente toxico uma saída -  coquetel molotov, para por um fim real a tudo isso - ou mesmo como num pesadelo, cair penhasco abaixo e acordar. Mas, não poderia, não era pesadelo nem sonho. Teria que me direcionar ao limiar e aprender a contemplar um novo ciclo que nascera da dor cruel e absoluta. Fazer do místico silêncio das estrelas uma revolução maior que a do proletariado contra a burguesia. Como também os acrobatas, que se arriscam sem as redes de proteção e sobrevivem a queda, renascendo com ossos quebrados, ronchas e pontos que costuravam a carne, deixando exposto o sangue já coalhado e encarando a corda bamba da vida a cada novo espetáculo. Grande como o infinito, pequeno como a vida. Vi, vivi e sobrevivi.

Tamires Correia

@tcgorda @sentimentoliquido

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