quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Permanecer não é estar!

AS FLORES E AS CORES

Anotei seus olhos num guardanapo de mesa de bar. O garçom viu o feixe de luz de sua voz. Compliquei meus lábios para não conseguires ler-me, para que não descubras o que escrevo, para não quereres ser minha caneta. Dobrei o papel, mas não sequei a caneta. Escrevi involuntariamente seus pensamentos com a calma de um gole num copo de uísque barato. Afastei uma cadeira da mesa, como um convite para alguém sentar-se, e coloquei os pés sobre ela numa desistência repentina, num medo convulso, numa embriaguês estantênea, com os olhos nos seus olhos, convidando-lhe e lhe afastando de mim ao mesmo tempo. Minha liberdade estava presa naquele desenho do guardanapo. Seus olhos se tornaram minha febre e minha cura; minha vontade de ser e não ser. Eles são o que me acrescenta e o que me falta.
Anotei seus olhos num guardanapo de mesa de bar, e fui tentada a ser ele quando você saía, quando o garçom não estava, quando o uísque acabava... Eu ceguei toda vez que lhe vi. Ri com lágrima na boca toda vez que não lhe perdi. Morri e sonhei toda vez que não lhe quis. Você era eu toda vez que me olhava no espelho. Via sua alma e o papel sumia.
Sou completa de amor até quando me faltas. A linha e o prumo pra tua aproximação estão sempre no lugar. Pronta para sua chegada, pois pra sua partida já era acostumada, já estava medicada pra esse acontecimento. Já tinha seus olhos num papel na palma da mão para enxugar minhas lágrimas. Já estava programada pra ter e perder você!
Andei sem rumo pelas calçadas vazias dos bairros nobres – lógico, as calçadas só tem gente em bairros do subúrbio – em desalento. E não posso culpá-lo por isso, sempre arranjo uma maneira sutil de fazer você acreditar que não lhe quero junto a mim. E toda essa dureza que guardo no meu coração, é a prova mais sincera de um amor medroso. Isso mesmo, que teme se apaixonar demasiadamente e demasiadamente também sofrer. Não suportando a idéia de que ninguém é dono de ninguém, que devemos deixar as pessoas livres para irem e vir – maldito livre arbítrio, não deveria existir no amor – assim a incerteza e insegurança embora dissipassem nossos corações, teria direito sobre a pessoa como propriedade.
A vontade de tê-lo sempre ao meu lado era tão sem dimensão que guardei aqueles versos desenhados sobre ti como fosse minha própria vida, eu era a guardiã do meu próprio medo, dona de suas vontades e carente de compaixão. Nunca pedi a Deus amar alguém como amei você. E não tenho coragem de pedir pra desamá-lo e por um fim nessa loucura.
Amar você então se tornou meu vício e minha loucura! Tudo o que tenho ficou de pendente de você, do seu perfume, da lembrança da sua imagem... De você


Tamires Correia

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